segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

A triste estória do guardador de silêncios

Mariazinha tirava a roupa mesmo antes do Zé sentir o frio da sua ausência. Tinham-se conhecido em dia de lua cheia, com o céu coberto de estrelas numa dessas festas populares cheias de gente inimiga da política. (Aí a política era tomada como assunto proibido).
As pessoas limitavam-se a dançar, cantar, conviver...tudo aquilo que diariamente mal têm tempo para fazer. Mariazinha não usava channel mas nem assim deixou de brilhar aos olhos verdes de Zé Tomé. O seu rosto pálido e os lisos cabelos negros eram então a maior alegria para Zé, o homem que guardava o silêncio de tantos outros. Dizem que com o passar do tempo, também Zé tinha abraçado o silêncio fazendo juras negras à sua voz.
Quando os olhos dos dois se tocaram puseram-se a dançar durante toca a noite. No fim Zé Tomé silenciosamente pegou Mariazinha pela mão e foi sambar nas margens do Rio Kuêze. A noite passou. As estrelas adormeceram. Os passarinhos começaram a chilrear. As folhas dançavam abraçadas ao vento.
No dia seguinte, Zambé o menino dos recados da vila andava doido à procura de Mariazinha para lhe dar a boa nova. Ela tinha conseguido finalmente trabalho mas muito longe de todo este cenário.No ar, mesmo antes da sua partida, já pairava a saudade da sua ausência.
E foi assim que Zé Tomé o guardador de silêncios se deixou levar também ele para outros mundos tão distantes que até hoje ninguém o voltou a ver. Uns dizem que desapareceu. Outros dizem que partiu em busca de toda a alegria que conseguiu viver naquele dia.
01-12-2010

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