terça-feira, 29 de junho de 2010

O cesto de cerejas

Nunca me quis agarrar a um corpo mas é difícil não gostar de ficar colada ao teu.
Quando nesse dia Maria Mariazinha se envaidosou toda para ir ao encontro dele, a lua estava cheia, toda cheia, cheia de coisa alguma. Lá estava ela no alto acompanhada por milhares de pontos luminosos coloridos como o seu olhar.
Maria saiu de casa num passo nervoso mas feliz. Um jornal debaixo do braço esquerdo, daqueles que se encontram nos bancos do jardim, já vistos por alguém. No outro braço, um bloco, um simples bloco branco com cento e trinta e três páginas com sete linhas cada. No seu gneto, assim tratava o seu bloco, Maria Mariazinha desenhava com palavras e escrevia com desenhos todas as suas emoções. Curioso é que nem todos conseguiam ler as suas coisas, só alguns, alguns poucos, muito poucos mesmo.
Já no jardim Maria Mariazinha esperava incansável por ele. Ele demorava. Demorou tanto que as estações do ano passavam tão rápido como se fossem os segundos do relógio. Os cabelos brancos surgiam na nuca de Maria como o sol todos os dias e a sua pele enrugada perdera o motivo, a razão que a levara um dia aquele banco do jardim.
Ela esperou, perdeu o motivo e perdeu-se no tempo como as folhas do Outono. No jardim ficaram apenas as folhas do jornal amarelecidas pelo tempo, o bloco branco quase invisível e o cesto das cerejas do seu último Verão.
28-06-2010

quarta-feira, 24 de março de 2010

quinta-feira, 11 de março de 2010

O ganso e Ela

Quando um pequeno raio de sol espreita, milhões de pessoas sorriem naturalmente. Assim o fez Maria que, ao fim de dias e dias a fio fechada em si mesma, se decidiu mostrar ao mundo.
À tarde, por volta das 17h, Maria tomou o seu chá, envandeirou-se, pôs o batôn e saiu. Começou por caminhar pelas ruas da sua antiga vida agitada, mas desta vez sozinha. Andou, andou e fartou-se de andar. Andou tanto que até se perdeu em pensamentos e mais tarde em recordações (Mal daquele que não recorda da sua última dança debaixo da chuva!).De cabeça inclinada, mãos encolhidas e um andar já muito desajeitado, lá ia ela caminhando em direcção ao parque.
Quando chegou mil pessoas também se deixavam perder: uns em pensamentos, outros em leituras, uns em jogos, outros neles próprios...todos estavam ocupados demais para ver o seu triste caminhar. A não ser o ganso Osnag, que atentamente ouvia as suas histórias contadas com suspiros e lágrimas, ao som do vagaroso caminhar de Maria, a já reformada prostituta da cidade.
Landeck 10/03/2010

terça-feira, 9 de março de 2010

Ma musique

-A vida não é silêncio.- disse-me ele um dia.
-Pois não.-respondi. A vida é muito mais do que isso. É uma sinfonia onde as notas musicais são o querer-te, o passear-te, o sonhar-te, o cheirar-te, o saborear-te, o ler-te, o desejar-te, o amar-te, o dormir-te, o falar-te, o sentir-te... Tudo isto compõe a minha música. Tudo isto impede que o silêncio habite em mim. Quero-te e amanhã é tarde demais.
07/03/2010