terça-feira, 29 de junho de 2010

O cesto de cerejas

Nunca me quis agarrar a um corpo mas é difícil não gostar de ficar colada ao teu.
Quando nesse dia Maria Mariazinha se envaidosou toda para ir ao encontro dele, a lua estava cheia, toda cheia, cheia de coisa alguma. Lá estava ela no alto acompanhada por milhares de pontos luminosos coloridos como o seu olhar.
Maria saiu de casa num passo nervoso mas feliz. Um jornal debaixo do braço esquerdo, daqueles que se encontram nos bancos do jardim, já vistos por alguém. No outro braço, um bloco, um simples bloco branco com cento e trinta e três páginas com sete linhas cada. No seu gneto, assim tratava o seu bloco, Maria Mariazinha desenhava com palavras e escrevia com desenhos todas as suas emoções. Curioso é que nem todos conseguiam ler as suas coisas, só alguns, alguns poucos, muito poucos mesmo.
Já no jardim Maria Mariazinha esperava incansável por ele. Ele demorava. Demorou tanto que as estações do ano passavam tão rápido como se fossem os segundos do relógio. Os cabelos brancos surgiam na nuca de Maria como o sol todos os dias e a sua pele enrugada perdera o motivo, a razão que a levara um dia aquele banco do jardim.
Ela esperou, perdeu o motivo e perdeu-se no tempo como as folhas do Outono. No jardim ficaram apenas as folhas do jornal amarelecidas pelo tempo, o bloco branco quase invisível e o cesto das cerejas do seu último Verão.
28-06-2010