O vendedor de cactos vivia não aqui, nem ali. Vivia simplesmente acolá, lá bem à frente dos olhos de quem o quisesse ver.
Gostava de cactos como a maioria gosta de açúcar. O seu coração era do tamanho da palma da mão de um gigante. Tinha olhos rasgados e um sorriso muito acanhado, um pouco enroscado às rugas de expressão. Era um homem de poucas palavras e de muito menos falatórios.
Logo pela manhã, bem cedo, mesmo antes do galo Galó acordar, ia fazer o seu café de saco e assomava-se para apreciar o romper do novo dia. Depois, pegava nas suas tralhas e lá ia para o mercado vender. Só vendia cactos pois dizia não saber cuidar de nenhuma outra planta.
Um dia tentou ter amores perfeitos mas como de perfeição não percebia nada, foram-se todos os seus amores. Os cactos eram bem mais simples. Tinham sido fruto de um clima bem mais quente, como o chá. Bebiam pouca água e eram inteligentes ao ponto de a armazenar para mais tarde. Como defesa, usavam os picos para ferir quem não soubesse olhar para eles. Um cacto é uma planta poderosa. O vendedor, um poço de mistérios.
Dizem os sociólogos que o Homem é naturalmente um ser sociável. Na realidade, o vendedor vivia na solidão ou na melhor companhia!? Por vezes ignoramos ou tentamos não compreender que cada um busca a sua felicidade por caminhos bem diferentes. Uns com outros, outros com animais, alguns com cactos. No fim de contas não serão todos felizes?
30.08.2011
domingo, 11 de setembro de 2011
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