O vendedor de cactos vivia não aqui, nem ali. Vivia simplesmente acolá, lá bem à frente dos olhos de quem o quisesse ver.
Gostava de cactos como a maioria gosta de açúcar. O seu coração era do tamanho da palma da mão de um gigante. Tinha olhos rasgados e um sorriso muito acanhado, um pouco enroscado às rugas de expressão. Era um homem de poucas palavras e de muito menos falatórios.
Logo pela manhã, bem cedo, mesmo antes do galo Galó acordar, ia fazer o seu café de saco e assomava-se para apreciar o romper do novo dia. Depois, pegava nas suas tralhas e lá ia para o mercado vender. Só vendia cactos pois dizia não saber cuidar de nenhuma outra planta.
Um dia tentou ter amores perfeitos mas como de perfeição não percebia nada, foram-se todos os seus amores. Os cactos eram bem mais simples. Tinham sido fruto de um clima bem mais quente, como o chá. Bebiam pouca água e eram inteligentes ao ponto de a armazenar para mais tarde. Como defesa, usavam os picos para ferir quem não soubesse olhar para eles. Um cacto é uma planta poderosa. O vendedor, um poço de mistérios.
Dizem os sociólogos que o Homem é naturalmente um ser sociável. Na realidade, o vendedor vivia na solidão ou na melhor companhia!? Por vezes ignoramos ou tentamos não compreender que cada um busca a sua felicidade por caminhos bem diferentes. Uns com outros, outros com animais, alguns com cactos. No fim de contas não serão todos felizes?
30.08.2011
domingo, 11 de setembro de 2011
Porque por vezes a vida surpreende-nos e torna um dia de Primavera num dia horrível de Inverno. Não há chuva. Não há neve. Há apenas aquele frio horrível que nos percorre o corpo e nos deixa em tons acinzentados. Às vezes a vida tem destas coisas! E a saudade dança como uma serpente em forma de lágrima pelo nosso rosto.
quarta-feira, 22 de junho de 2011
O meu rádio toca baixinho. Cada vez mais baixinho. Quero ouvi-lo.Ouvi-lo mais alto. Ele tocava alto mas não deu importância ao tempo e este passou rápido demais por ele. Não é o tempo que passa rápido, somos nós que passamos rápido demais pelo tempo. Ganhamos velocidade quando deixamos de sonhar. Mas eu quero que o meu rádio volte a tocar. A tocar alto. Quero ouvir aquela voz rouca sair das ranhuras do aparelho. Quero, quero e quero. Ele não se partiu mas decidiu partir. Levou com ele o cheiro e deixou-me as lembranças guardadas no sótão das memórias. Toca. Vá lá, toca. Dança. Sente. Faz-me sonhar.
segunda-feira, 17 de janeiro de 2011
A triste estória do guardador de silêncios
Mariazinha tirava a roupa mesmo antes do Zé sentir o frio da sua ausência. Tinham-se conhecido em dia de lua cheia, com o céu coberto de estrelas numa dessas festas populares cheias de gente inimiga da política. (Aí a política era tomada como assunto proibido).
As pessoas limitavam-se a dançar, cantar, conviver...tudo aquilo que diariamente mal têm tempo para fazer. Mariazinha não usava channel mas nem assim deixou de brilhar aos olhos verdes de Zé Tomé. O seu rosto pálido e os lisos cabelos negros eram então a maior alegria para Zé, o homem que guardava o silêncio de tantos outros. Dizem que com o passar do tempo, também Zé tinha abraçado o silêncio fazendo juras negras à sua voz.
Quando os olhos dos dois se tocaram puseram-se a dançar durante toca a noite. No fim Zé Tomé silenciosamente pegou Mariazinha pela mão e foi sambar nas margens do Rio Kuêze. A noite passou. As estrelas adormeceram. Os passarinhos começaram a chilrear. As folhas dançavam abraçadas ao vento.
No dia seguinte, Zambé o menino dos recados da vila andava doido à procura de Mariazinha para lhe dar a boa nova. Ela tinha conseguido finalmente trabalho mas muito longe de todo este cenário.No ar, mesmo antes da sua partida, já pairava a saudade da sua ausência.
E foi assim que Zé Tomé o guardador de silêncios se deixou levar também ele para outros mundos tão distantes que até hoje ninguém o voltou a ver. Uns dizem que desapareceu. Outros dizem que partiu em busca de toda a alegria que conseguiu viver naquele dia.
01-12-2010
As pessoas limitavam-se a dançar, cantar, conviver...tudo aquilo que diariamente mal têm tempo para fazer. Mariazinha não usava channel mas nem assim deixou de brilhar aos olhos verdes de Zé Tomé. O seu rosto pálido e os lisos cabelos negros eram então a maior alegria para Zé, o homem que guardava o silêncio de tantos outros. Dizem que com o passar do tempo, também Zé tinha abraçado o silêncio fazendo juras negras à sua voz.
Quando os olhos dos dois se tocaram puseram-se a dançar durante toca a noite. No fim Zé Tomé silenciosamente pegou Mariazinha pela mão e foi sambar nas margens do Rio Kuêze. A noite passou. As estrelas adormeceram. Os passarinhos começaram a chilrear. As folhas dançavam abraçadas ao vento.
No dia seguinte, Zambé o menino dos recados da vila andava doido à procura de Mariazinha para lhe dar a boa nova. Ela tinha conseguido finalmente trabalho mas muito longe de todo este cenário.No ar, mesmo antes da sua partida, já pairava a saudade da sua ausência.
E foi assim que Zé Tomé o guardador de silêncios se deixou levar também ele para outros mundos tão distantes que até hoje ninguém o voltou a ver. Uns dizem que desapareceu. Outros dizem que partiu em busca de toda a alegria que conseguiu viver naquele dia.
01-12-2010
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