quarta-feira, 8 de outubro de 2014

O piloto que pilotava para lá do céu

  Zé cresceu numa vila cheia de casinhas coloridas. A mamã fazia bolos e ele voava com o delicioso cheiro até países bem distantes.
  Em pequeno usava jardineiras brancas às riscas azuis e adorava abrir os braços ao nascer do sol e fingir ser um avião. Os seus caracóis eram loiros cor de trigo e o seu sorriso fazia levantar voo qualquer menina. Seu papá, homem culto, com gostos requintados pela fotografia, literatura e gastronomia, conseguiu que ele fosse estudar longe, onde o seu sonho era possível de existir.
   Quando terminou os estudos começou a pilotar grandes aviões, enormes, bem maiores do que aqueles com que sempre sonhara. Na vida temos de ser quem somos para que a beleza (do nosso percurso) nos faça brilhar o olhar.
  Foi num dia vulgar que Zé conheceu a sua Maria. Fitou-a com um enorme sorriso nos lábios e ela logo se apaixonou. Saíram para jantar, beberam um copo, dançaram e no fim voaram juntos durante um tempo sem fim.
  Os anos passaram e eles foram partilhando a beleza da vida juntos. Viram o nascer do sol e dançaram juntos à beira mar. Pintaram primaveras e escutaram invernos duros. Passaram pelo tempo a voar em partilhas e a contar aviões.
   09.09.2014

quinta-feira, 30 de maio de 2013

O barbeiro

    Ele era um senhor curioso. Tinha cabelo acinzentado, um sorriso escondido e um olhar com brilho a solidão. Gostava de espreitar pela montra da sua barbearia o dia  a dia de quem por ali passava. Os vidros eram limpos várias vezes para a transparência ser ainda maior.
    Ao longo do seu dia atendia vários senhores e fazia-lhes a barba à navalhada ao som de Edith Piaf, a sua musa. Começava por colocar a bata branca e indicar a cadeira. De seguida, afiava cuidadosamente a  navalha, espalhava o creme de barbear, aumentava o volume e de atenção repartida entre a Edith e o movimento de barbear, começava a  cortar os pelos ao cliente.
   Quando numa manhã de outono, as folhas alanrajadas cobriam os desenhos da calçada portuguesa, que decoravam a entrada da barbearia, o barbeiro sentiu uma dor forte no peito. Perdeu a força e sentiu o seu corpo cair. No chão ficou o fraco gemido que ninguém ouviu e que logo se perdeu no meio de todo aquele quadro alaranjado. Os sentidos rapidamente abandonaram o seu corpo para irem ao encontro tão desejoso da sua musa. Já nada o fazia ficar.
    Foi assim que o barbeiro do Barreiro se deitou no chão pela primeira vez e viu como o céu era tão maravilhoso e cheio de sons. De barriga para cima deixou-se levar e abandonou o seu olhar com brilho a solidão e foi ser FELIZ!

sexta-feira, 27 de abril de 2012

O Reumo do que sou e sei de mim : Estar só é uma morte parva.
Acreditar no AMOR faz-me ir mais além.
PeRdI-mE nO MeIO dO jArDiM DaS lIbEliNhAs PaRa PoDeR vOaR pArA sEmPrE.
Procuro-me me tantos outros mas não me encontro. Onde estás? Não te vejo.
 Onde estou?  Não me sinto.
Passo de ti para ele e não consigo acompanhar ( de corpo e alma) .
 A primeira viaja. A outra não desperta do sono profundo.
Foste tu o culpado? Não deixaste nada por ocupar?
 No tango da meia noite danço. A voz adormecida  não sei quem a conseguirá acordar. 08.03.2011
Mulher ciumenta é pior que trovoada. 20.02.2011
A distância é alheia ao sentimento, Na sua noite ficam suspensas muitas palavras de orvalho. Durante o sono mantém-se o silêncio que é quanto basta para alimentar esta solidão. 07.02.2011